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“Ajudo as pessoas a colorir pensamentos”

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domingo, 12 de janeiro de 2014

Ligações cerebrais são diferentes entre mulheres e homens

Estudo analisou 949 crianças, adolescentes e jovens adultos. Redes cerebrais das mulheres facilitam a memória e as capacidades cognitivas sociais, enquanto nos homens ajudam no desempenho motor e na visualização espacial.
Cérebro maculino (em cima) com ligações a azul no mesmo hemisfério e cérebro feminino; e (em baixo) com ligações a laranja entre os dois hemisférios 
O cérebro das mulheres e dos homens é diferente, fazendo com que certas actividades sejam mais fáceis para eles, como o desempenho motor e a visualização espacial, e outras mais fáceis para elas, como a memória e as capacidades cognitivas sociais. A questão subjacente a esta diferença são as redes neuronais, o chamado conectoma humano, que desenvolveu de uma forma diferente nas mulheres e nos homens ao longo do crescimento, mostra um estudo publicado nesta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
“As diferenças sexuais têm um interesse continuado a nível científico e social devido à sua proeminência no comportamento de humanos e de outras espécies”, lê-se no início do artigo da PNAS assinado por uma equipa de cientistas liderados por Ragini Verma, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. “As diferenças de comportamento poderão ser originadas devido a papéis complementares na reprodução e na estrutura social.”
Experiências passadas mostram que as mulheres têm tipicamente mais memória verbal e cognição social, enquanto os homens mostram uma maior capacidade motora, habilidades em actividades que necessitem de visualização tridimensional e uma maior propensão para a violência.
Já foram feitas análises sobre diferenças existentes entre os dois sexos na proporção de partes do cérebro. Mas a equipa de Ragini Verma preferiu olhar detalhadamente para as redes de neurónios, o já famoso conectoma humano. Este conectoma permite, pela primeira vez, determinar as auto-estradas nervosas existentes entre as regiões do cérebro.
Os investigadores analisaram o conectoma de 949 pessoas entre os oito e os 22 anos, de várias origens geográficas, divididas em 521 jovens do sexo feminino e 428 jovens do sexo masculino. Uma das técnicas que utilizaram é a ressonância magnética com tensor de difusão, que realça os caminhos das fibras nervosas entre as regiões do cérebro, graças ao movimento de água nas células.
Os resultados mostram que as mulheres têm mais ligações entre os dois hemisférios (esquerdo e direito) do cérebro, enquanto os homens têm mais ligações dentro de cada um dos hemisférios. Mas no cerebelo, uma região individualizada que fica na base posterior do cérebro, são os homens que apresentam mais ligações entre os dois hemisférios. A região do cerebelo está associada ao pensamento motor.
“Se olharmos para estudos funcionais, a parte esquerda do cérebro está mais associada ao pensamento lógico, e parte direita ao pensamento intuitivo. Por isso, se há actividade que envolva fazer ambas as coisas, parece que as mulheres estão sintonizadas para fazer melhor isso”, explica Ragini Verma, citada pelo jornal britânico The Guardian. “As mulheres são melhores no pensamento intuitivo. São melhores a lembrarem-se de coisas. Quando fala com as mulheres, elas estão mais envolvidas emocionalmente – vão ouvir mais.”
Em relação aos homens, o que está em alta é a desenvoltura motora. “Fiquei surpreendida [que os resultados] tenham correspondido muito aos estereótipos que julgamos ter nas nossas cabeças", diz a investigadora, acrescentando que se for a um restaurante com chefe de cozinha, a maioria deles são homens.
A equipa também quis compreender como se dava a evolução destes conectomas ao longo do crescimento de raparigas e rapazes em homens e mulheres. Por isso, observou separadamente o cérebro de três grupos etários: até aos 13 anos, dos 14 aos 17 e dos 18 aos 22 anos. A equipa descobriu que as diferenças entre raparigas e rapazes eram pequenas até aos 13 anos, mas depois aumentavam.
Ruben Gur, outro dos autores do artigo, e investigador da Universidade da Pensilvânia, defende, citado num comunicado, que os resultados também serão importantes para estudar as doenças neurológicas: “Os detalhes dos mapas cerebrais dos conectomas não só irão ajudar a compreender melhor as diferenças de como os homens e as mulheres pensam, mas também irão trazer uma maior compreensão nas raízes das doenças neurológicas, que muitas vezes estão associadas ao género.”

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