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“Se alguém faz uma coisa bem feita, você tem que elogiar na hora”
Simon Dolan explica como as emoções podem tornar o ambiente de trabalho um lugar muito melhor e por que os brasileiros jamais devem deixar de celebrar a vida
Por Soraia YoshidaSim, de fato. No tipo de cultura em que vivemos, há uma inclinação maior em se criticar e usar os exemplos negativos – em vez de usar simetria para equilibrar as coisas. Quando alguém faz uma coisa ruim, você precisa dizer isso a ela. Mas quando alguém faz uma coisa boa, você tem de elogiar na hora. A recompensa precisa ser eficaz e instantânea, deve vir imediatamente após a tarefa bem cumprida. Ao fazer isso, você gera emoções, que é o que move as pessoas.
Depende de como isso é feito. Meu “feeling” é que se você conecta emoção com paixão, é sempre positivo porque a fórmula para a excelência em tudo o que fazemos é uma combinação de competência técnica mais paixão. Se alguém tem competência, vai fazer um bom trabalho. Porém, não há garantia de que consiga ser excelente e nem de que seja capaz de manter esse padrão de excelência. Se você só tem paixão pelo que faz, sem ter a competência técnica, não vai chegar a lugar algum. Agora, se você combinar a paixão com a competência, aí sim fará um trabalho excelente. Eu acredito que a paixão leva à inovação, faz com que as pessoas ousem mais, corram riscos e experimentem coisas que não conhecem. Mas falo de paixão em adição à competência, só a paixão não compensa a falta de conhecimento e competência.
É muito mais fácil ser competente do que desenvolver a paixão. Você pode buscar o conhecimento. A paixão você tem que trazer à tona.
Quando os líderes nas organizações entenderem que ao criar uma cultura em que as pessoas têm um senso um diversão, um ambiente mais leve para trabalhar, isso trará inovação. Para que uma organização se torne excelente, é preciso tentar equilibrar três eixos: um é o econômico-pragmático, o outro é ético-social, o terceiro é o emocional-desenvolvimentista. Ao trabalhar a questão econômico-pragmática, você não tem oportunidade de ser brincalhão. Só que as companhias precisam instigar esse aspecto, afinal é no trabalho que se passa a maior parte da vida. O que estou tentando fazer é ajudar as empresas, na figura de seus presidentes e diretores, a negociar valores que possam aproximar o que se faz do que se gosta. Essa é a minha metodologia de reengenharia de cultura. E isso pode ser feito – e pode ser feito agora.
Sim, o CEO não é um líder transformacional. Ele fala muito em inovação, mas quando se trata de colocar a inovação em prática, ele não tolera o fracasso. Como alguém pode inovar, pensar de maneira diferente, se não pode arriscar? Muitos líderes não entendem que, para inovar, é preciso lidar com o fracasso. O que eu faço é ajudá-los a desenvolver esse processo. Um estudo feito por uma consultoria com as mil maiores empresas mostra que quando se cria uma cultura de inovação alinhada com a cultura empresarial, o resultado é um aumento de 33% em produtividade e inovação, além de um crescimento geral de 20%.
Por isso é tão importante pensar nos funcionários, elogiar sua equipe. Elogie sempre o que for feito de bom, mas de uma maneira sincera. Você precisa encontrar formas diferentes de dizer às pessoas que elas estão fazendo um bom trabalho. É importante inovar até nesse sentido. E nunca tente manipular sua equipe: as pessoas entendem quando um elogio é feito apenas com a intenção de manipular, portanto se for assim não terá efeito algum.
Sim, não há problema em dizer a alguém que seu trabalho não está bom. Tem que ser simétrico, como eu disse, você precisa dizer quando foi bom e quando foi ruim. O que não se pode fazer é apontar o tempo todo somente o que está errado.
Tudo bem, isso acontece. Como coach, você chega na pessoa e diz “Olha, a vida tem muitos ciclos e não é possível estar sempre no topo. Agora, você pode estar em baixa, mas haverá um período em que voltará ao topo novamente”. Eu dou centenas de palestras todos os anos. Você acha que toda vez é sempre um grande sucesso? Não. Muitas vezes não sei o que a plateia está esperando. Eu tenho experiência suficiente para mudar minha palestra, o que já aconteceu muitas vezes. É preciso usar sensibilidade e inteligência. Não há fórmula para que alguém seja excelente o tempo inteiro.
Sim, é possível. Às vezes você tem os recursos para fazer isso sozinho e, muitas vezes, você precisa de ajuda e é isso que os coaches fazem. É disso que se trata um time. Um coach pode ajudar a interromper um ciclo de baixa.
Você não deve apostar todas as suas fichas em um só lugar. A maioria dos projetos inclui vários elementos. Um deles você sempre pode controlar. E esse elemento que você consegue controlar e que te faz feliz, é a ele que você deve dedicar mais seu tempo. Esse é o segredo. E é isso que faço com muitos dos que se preparam para ser coaches: vejo quais são os sonhos deles, o que são capazes de controlar em suas vidas, o que os faz felizes, e eles desenvolvem o plano.
Nesta vida, a maior parte das coisas é fácil. Embora nós, seres humanos, sejamos máquinas muito complexas, ainda temos necessidades e desejos muito primitivos. Se formos honestos e conseguirmos nos conhecer melhor, podemos converter os fatos. Eu tive um problema que me tirou 70% da visão em um lado. Sei de outras pessoas com problema semelhante que se tornaram melancólicas e depressivas. Eu acho que é uma questão de escolha. É a famosa história do copo de água. Eu decidi me concentrar no que tenho, não no que não tenho. Acho que exageramos muito em relação à maioria dos problemas na vida e no trabalho. Não estou dizendo que muitos problemas ao nosso redor não são capazes de trazer tristeza. Mas posso dizer que nós mesmos geramos muita infelicidade, porque interpretamos as coisas de um jeito que sempre irá nos machucar. Não entendemos que as únicas vítimas somos nós mesmos. Então, o que estou fazendo no meu coaching é me concentrar no talento, na competência, não no que as pessoas não têm. E nada de viver no passado. Muita gente diz “Há alguns anos eu fazia tal coisa”. Isso foi ontem. Vamos nos concentrar no hoje e no agora.
Eu ensino em uma das melhores escolas do mundo, a Esade Business School, em Barcelona, e sempre questiono meus alunos sobre o tipo de organização em que gostariam de trabalhar. Eu faço a seguinte analogia com eles. Você termina o curso e sai para o mercado. Recebe uma proposta e descobre que vai ganhar muito bem, trabalhar numa multinacional, com grandes oportunidades de fazer carreira, mas seu chefe é um desgraçado, uma pessoa terrível. Outra oferta é feita por uma empresa que pagaria 30% menos, mas que abriria espaço para você criar um grande projeto em um ambiente divertido. A resposta deles: 90% preferem ir para a grande companhia. O que eles me explicam, porém, é que assim que pagarem os empréstimos que fazem para estudar lá, eles se mudariam para a outra companhia. A mesma coisa acontece nos casamentos. Nós nos casamos e esperamos que dure para o resto da vida. A realidade é muito diferente. Por quê? Porque as pessoas chegam a um ponto em que descobrem que não dividem mais os valores fundamentais (core values) e eles acreditam que têm direito nesta vida a dividir esses valores com alguém. Todos tentamos ser felizes.
Creio que sim. Eu comparo o Brasil hoje com os Estados Unidos. Eu fui educado nos EUA e digo, com tristeza, que eles têm a competência para mudar, mas são tão arrogantes, acham que são os melhores e não percebem que o mundo a seu redor está mudando. Eles não entendem que ter sido o melhor ontem não significa ser o melhor amanhã. Os brasileiros sabem que não têm nada a perder e por isso experimentam, o que é muito bom.
Sim, e eu tenho orgulho em dizer que previ isso há mais de dez anos. Eu visito o país regularmente há 15 anos. Olhe para o Brasil, o país está acontecendo. Por que agora e não antes? Não foi porque o país não tinha potencial, sempre teve. O que acontecia é que o Brasil era visto no mesmo nível da Argentina, com muita corrupção, muitos problemas. A corrupção, aliás, é para mim o grande desafio do governo Dilma Rousseff. Sei que há pobreza, favelas, falta educação, mas essas coisas vão melhorar, não tenho dúvida. Os brasileiros têm um senso enorme de comunidade, não deixam tudo para o governo, já vi histórias incríveis por aqui. Só gostaria que o Brasil não se tornasse uma sociedade de consumo tão grande quanto os EUA. Os brasileiros não deveriam abandonar o samba, o carnaval, a alegria, deveriam trazer essa celebração da vida para dentro das empresas – e não achar que é perda de tempo. É uma maneira incrível de construir relações.